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Opinião

O Chamado do Deserto: Crônica do Marfa Invitational Open

O Chamado do Deserto: Crônica do Marfa Invitational Open

Marfa sempre teve algo de místico: um farol no deserto do oeste do Texas, onde a história do cinema, o legado minimalista e a criatividade mais radical convergem. Mas nesta primavera, a cidade assumiu um papel ainda mais transformador: tornou-se o epicentro de uma das exposições mais ambiciosas e inclusivas que o Texas já viu: o Marfa Invitational Open. Fiquei honrado em ser selecionado como curador e jurado ao lado de Michael Phelan, fundador e diretor do Marfa Invitational. Assumi essa responsabilidade com humildade e um profundo senso de comprometimento.

Mais de 600 artistas de todo o estado responderam ao chamado. Pintores, escultores, fotógrafos, artistas têxteis e conceituais — todos apresentaram seus trabalhos. Após meses de cuidadosa deliberação, selecionamos 165 artistas cujas peças comporiam uma exposição em estilo salão no famoso Saint George Hall. Mais do que uma exposição, foi uma declaração: do imenso talento artístico texano, do poder da inclusão e da arte como uma forma de comunidade.

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A visão curatorial era ousada, mas clara: representar a cena de arte contemporânea do Texas em toda a sua riqueza e diversidade. Da fronteira de El Paso, da energia urbana de Houston à força artística de Dallas, cada região fazia parte dessa tapeçaria coletiva.

O que se seguiu foi simplesmente mágico. 160 dos artistas selecionados chegaram a Marfa. Não pela imprensa ou pelo prestígio, mas pelos outros. Havia uma energia palpável, um compromisso compartilhado com a criatividade e a comunidade que transcendia o ego e o gênero artístico. Sob o imenso céu do deserto, não éramos concorrentes. Nós éramos colaboradores.

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O escultor Ray Smith, uma lenda texana, descoberta na década de 1980 por Larry Gagosian, apresentou três obras monumentais que brilhavam à luz do entardecer, atraindo pessoas como ímãs sob o pôr do sol vermelho do deserto. A poucos passos de distância, a obra Lighthouse, uma escultura luminosa do artista coreano-texano Anese, erguia-se como um guardião sereno. Não era feito de tijolos, mas da saudade de casa, da ideia de refúgio, iluminando suavemente no vento do deserto.

E então, o movimento. A carismática artista e performer Beth Coffey, também conhecida como @DancinAustin, liderou a comunidade em uma dança espontânea: um gesto de alegria e libertação a céu aberto, incorporando o espírito de Marfa: selvagem, inclusivo, vivo.

Marfa sempre foi mais do que apenas um ponto no mapa. Foi onde Liz Taylor, James Dean e Rock Hudson filmaram Gigante. Onde Donald Judd transformou o minimalismo em uma religião. Hoje, abriga a recente exposição individual de Richard Prince com a galeria Max Hetzler e a exposição tripla de Christopher Wool. Mas o que aconteceu durante o Marfa Invitational Open foi diferente. Tratava-se de muitos, não de poucos. Tratava-se de visibilidade, inclusão e expressão coletiva. Era sobre o Texas — em toda a sua complexidade, força e beleza.

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Como alguém que dedicou sua vida a colecionar, curar e apoiar arte contemporânea ao redor do mundo, esse momento em Marfa me lembrou de algo profundo: que o verdadeiro poder da arte está em sua capacidade de unir. Quando abraçamos a colaboração, como Rauschenberg fez, não apenas criamos melhor arte, mas também criamos melhores comunidades.

A todos os artistas participantes, meus colegas, curadores e ao povo de Marfa: obrigado. Não foi apenas uma exposição. Foi um movimento. E seu brilho continuará a brilhar, muito depois que os ventos do deserto mudarem.

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