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Exposicions

Miralda, BOOOM

Uma viagem visual e crítica pela iconografia militar e sua desconstrução.

Les Bigoudis de la Generala #2, Antoni Miralda (1969)
Miralda, BOOOM
bonart barcelona - 08/05/25

A galeria Senda acolhe uma nova exposição dedicada a Antoni Miralda (Terrassa, 1942), artista que desde os anos sessenta construiu uma trajetória muito pessoal entre crítica política, humor e ação. Desta vez, o foco recai sobre uma parte muito específica de sua obra, aquela que gira em torno do soldado, das estruturas militares e tudo o que elas representam. É um olhar para o passado com uma força que, apesar dos anos, ressoa fortemente no presente.

O motivo da exposição é a apresentação do livro BOOOM 1962-1972, organizado por Ignasi Duarte e coeditado por La Fábrica, que abrange uma década-chave na obra de Miralda. Na galeria, o livro ganha forma por meio de uma seleção de fotografias, desenhos e esculturas, muitos deles nunca antes vistos. A exposição apresenta a maneira como Miralda começou a documentar — e ao mesmo tempo transformar — sua experiência como recruta durante o serviço militar. Tudo começa em Los Castillejos, em 1962, quando a câmera se torna um refúgio do absurdo e da violência do regime. As imagens resultantes não apenas retratam a vida no quartel, mas também sugerem a necessidade de entender o ambiente através de uma distância irônica.

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Ao retornar ao serviço em 1965, Miralda retomou o fio condutor com o Cuaderno de Castillejos, cheio de desenhos e anotações feitas para não dar ouvidos ao capitão e escapar, mesmo que fosse mentalmente. Aí, a crítica ao aparato militar ganha corpo. Somam-se a isso peças como Bien/Mal, uma série em que ele manipula vinhetas de manuais militares para destacar sua lógica absurda. São obras que funcionam como um estudo acalorado sobre o poder, a normalidade imposta e o desejo de se impor.

A ideia do soldado como figura que atravessa espaços e discursos reaparece com força em Soldats Soldés (1967), apresentado pela primeira vez na Galerie Zunini, em Paris. Aqui, o tradicional soldado verde é branqueado — literalmente — e se torna uma figura neutra que se espalha por todos os cantos. É uma espécie de presença que contamina tudo, mas não mais com a força da autoridade e sim com uma atitude crítica, camuflada e constante.

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Encontramos também as esculturas da série Toile de Jouy, uma intervenção sobre móveis e objetos do cotidiano, onde uma tropa de soldados brancos invade o espaço doméstico. Com esse gesto, Miralda questiona a forma como a iconografia militar se infiltrou em nosso cotidiano. Essa linha de trabalho se completa com a série Hazañas bélicas, fotografias que captam essas ocupações simbólicas, sempre com um toque de ironia, como se o artista propusesse "melhorar" a paisagem. Um dos momentos mais emblemáticos do projeto é quando o soldado branco em tamanho real toma as ruas de Paris. Essa viagem, filmada em conjunto com Benet Rossell, acaba se tornando Paris, La Cumparsita (1972), uma peça audiovisual que se situa a meio caminho entre a performance e o cinema experimental.

Em suma, o que Miralda propõe com BOOOM é uma reflexão ácida sobre guerra, poder e memória. Os soldadinhos de brinquedo se tornam uma forma de olhar o mundo, de nos perguntarmos o que nos cerca e por quê. E sim, talvez seja também, de alguma forma, uma homenagem ao soldado como vítima de um sistema que o transforma em uma máquina que nunca para.

O livro BOOOM 1962–1972, além de reunir todo esse material, inclui textos que ajudam a entender o processo criativo do artista e a validade de sua proposta. Porque, apesar dos anos, falar de soldados, de defesa e de discursos de força infelizmente está mais uma vez na boca do povo. E nesse contexto, a atitude de Miralda — essa disposição de ser contra, de questionar o que eles querem que façamos passar como normal — continua sendo necessária.

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