A Fundação NUMA Espais de Cultura abre novamente suas portas com uma proposta que nos convida a olhar o que nos cerca de uma maneira diferente. Desta vez, o protagonista é Hiroshi Kitamura, um criador japonês com uma carreira marcada pelo respeito aos materiais e aos silêncios que a própria natureza provoca. Na sala Ciutadella, Kitamura apresenta um conjunto de peças que combinam escultura e trabalho com tinta, com um desejo claro de se aproximar da essência das coisas em vez de impor qualquer discurso sobre elas.
A exposição, que pode ser visitada a partir de 8 de maio, é a segunda que a fundação recebe desde sua inauguração em maio de 2024. No total, 32 obras podem ser vistas, divididas entre 25 esculturas e 7 peças de grande formato feitas com tinta sobre papel. Kitamura trabalha com diversas madeiras, como carvalho, cerejeira, buxo, oliveira ou tília, entre outras, e consegue garantir que cada uma delas mantenha parte de sua identidade no resultado final. As esculturas, algumas com até três metros de altura, fazem parte da série Segredos da Floresta e mantêm um diálogo aberto entre a natureza, a mão do artista e o olhar do observador.
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Quanto às sete tintas, também de grande tamanho, são feitas com técnicas e materiais tradicionais como tinta da China, nogueira ou mogno, e são apresentadas montadas segundo o método japonês hyougu, que respeita seu equilíbrio e sutileza. Como o próprio Kitamura explica, sua maneira de fazer as coisas é construída em três momentos. Primeiro, há a observação, o passeio tranquilo para encontrar – ou ser encontrado por – a matéria-prima. Depois, vem o processo de descascar a madeira, remover sua casca e descobrir suas histórias ocultas. E, por fim, o encaixe, onde as peças são combinadas sem forçá-las, como se a escultura já estivesse ali e ele só precisasse ajudá-la a sair.
Com este projeto, o artista mergulha em noções como metamorfose, memória compartilhada, vazio, transitoriedade ou gesto primitivo. Seu trabalho reflete uma troca constante entre o mundo natural e o impulso criativo, com uma sensibilidade que se inspira tanto na espiritualidade oriental quanto na experiência tangível da matéria.
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Nascido em Hokkaido em 1955, Kitamura formou-se em escultura e gravura e, desde jovem, conviveu com a prática artística graças ao ambiente familiar. Em 1987, ele se estabeleceu na Catalunha, onde a influência mediterrânea começou a se infiltrar naturalmente em seu trabalho. Há mais de uma década vive no Empordà e sua obra mantém viva uma linha de pesquisa que une o pensamento oriental à experiência da paisagem europeia.
Quanto à Fundação NUMA, ela começou sua jornada com uma exposição dedicada a Caspar Berger e, desde então, vem se consolidando como um polo cultural em Menorca. O espaço combina patrimônio e contemporaneidade em um edifício que dialoga com o meio ambiente e incorpora a arquitetura tradicional da ilha dentro de uma visão artística atual. Arte, memória e território se entrelaçam nesta proposta singular, que reivindica a conexão entre criação e paisagem.
Vista de l’instal·lació Hiroshi Kitamura a la Fundació NUMA. © José Armando Brizuela