O pintor e artista visual Eduard Bigas, nascido em 1969 em Palafrugell, propõe um encontro íntimo com uma das figuras intelectuais mais influentes do século XX: Walter Benjamin. Em sua nova exposição na Galerie Kuchling, Bigas não trata Benjamin apenas como uma figura histórica, mas como um “espírito metafórico” que continua a ressoar em nossa contemporaneidade marcada por mudanças políticas, aceleração tecnológica e tendências autoritárias.

A trajetória pessoal de Bigas — entre a Catalunha e Berlim — traça um círculo simbólico. Perto de seu local de nascimento fica Portbou, a cidade onde Benjamin morreu em 1940 fugindo do nazismo, enquanto Berlim, cidade natal de Benjamin, é hoje o centro da vida e da obra de Bigas. Essa topografia geográfica e intelectual fornece a estrutura para sua exploração artística.
Em Wo mich niemand kennt , Bigas explora temas centrais do pensamento de Benjamin: o fragmentário, a aura da obra de arte e a tensão entre original e reprodução. Suas peças, que combinam colagem, tinta sobre papel, desenho a grafite sobre tela e fotografia conceitual, constroem um universo polifônico que reflete a metodologia intelectual de Benjamin.

O título da exposição vem de uma nota da última despedida de Benjamin: “É numa pequena aldeia dos Pirenéus, onde ninguém me conhece, que a minha vida terminará”. Esta frase funciona como um fio condutor em todas as obras, evocando uma melancolia poética que permeia toda a exposição.
Bigas inspira-se em textos como A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica e nos sonetos de Benjamin, mas, ao mesmo tempo, desenvolve a sua própria linguagem visual: intuitiva, poética e interrogativa. O seu trabalho convida-nos não a procurar respostas definitivas, mas a seguir os caminhos abertos pelo pensamento de Benjamin e a reinterpretá-los no presente.
Wo mich niemand kennt torna-se, assim, uma homenagem silenciosa a Walter Benjamin, simultaneamente a uma reflexão sobre memória, lugar e filosofia na nossa contemporaneidade. A Galeria Kuchling acolhe novamente Bigas, oferecendo ao público a oportunidade de mergulhar neste diálogo entre arte e pensamento.
