O Museu Nacional de Arte da Catalunha juntou-se à celebração do 50º aniversário da Fundació Joan Miró e, a partir deste 25 de setembro, abre as portas da Sala de la Cúpula para uma peça excepcional: a Maqueta para Parella d'enamorats dels jocs de flors d'ametller. Não se trata de uma escultura qualquer, mas da versão preparatória de uma das obras públicas mais emblemáticas de Miró, a grande escultura de poliéster inaugurada em 1978 no coração do novo bairro de La Défense, em Paris, um espaço onde o artista catalão deixou uma marca indelével na paisagem urbana.
A presença desta maquete no MNAC torna-se ainda mais significativa por ser apresentada em diálogo direto com outro testemunho do mesmo momento criativo de Miró: o mural que, juntamente com o ceramista Joan Gardy Artigas, concebeu naquele mesmo ano para o edifício da empresa tecnológica IBM. Escultura e mural, corpo e parede, volume e superfície, erguem-se agora sob a majestosa cúpula que Francesc d'A. Galí — mestre de Miró e figura-chave na sua formação — pintou em 1929. Este triplo encontro artístico, entre mestre e discípulo, entre pintura, mural e escultura, oferece um cenário privilegiado para compreender a intensidade do diálogo entre tradição e modernidade, entre memória e a radicalidade do gesto contemporâneo.

Com essas duas obras, o visitante pode perceber como Miró questionou a coexistência da arte com a arquitetura moderna. Seu colorismo vibrante, a energia quase telúrica das formas e a liberdade orgânica de sua imaginação contrastam — e ao mesmo tempo se harmonizam — com a frieza racionalista e as linhas limpas do ambiente funcional. Nesse jogo de tensões, as figuras humanas do Casal Apaixonado emergem com uma força singular: são corpos cheios de vida e cor, pontos de união entre a escala humana e a monumentalidade da arquitetura.
Miró, fiel ao seu desejo de fazer da arte uma linguagem universal e acessível, consegue que a escultura não seja um objeto isolado, mas uma presença viva que dialoga com o seu entorno. Dessa forma, ele realiza seu desejo de integrar a arte ao espaço público e oferecê-la como uma experiência compartilhada, como um gesto de amor e celebração coletiva.
Neste encontro no MNAC, a Maquete para um Casal Apaixonado não só nos conta a gênese de uma obra monumental, como também nos convida a refletir sobre a capacidade de Miró de transformar o espaço, de conciliar o rigor arquitetônico com a poesia da cor e de fazer com que a arte se enraíze no cotidiano das pessoas.
50 anos da Fundação Miró
O 50º aniversário da Fundació Joan Miró (2025-2026), sob o lema "Para as pessoas de amanhã", é uma celebração coral que reivindica a instituição como epicentro cultural e espaço de diálogo entre arte, sociedade e futuro. Com uma programação que combina grandes exposições como "A Poesia Acaba de Começar"; "Miró e os Estados Unidos"; a reorganização da Coleção e a inauguração do Jardim de Ciprestes, além de concertos, performances e atividades educativas, o aniversário se estende para além de Montjuïc graças à participação de um amplo tecido cultural. Além do MNAC, outras grandes instalações, como o Gran Teatre del Liceu, o Festival Peralada ou o Museu Reina Sofía, entre muitos outros, uniram-se com suas próprias propostas, tornando o cinquentenário não apenas uma celebração da Fundació Joan Miró, mas de toda a comunidade artística e cultural.