No início da década de 1990, Antoni Tàpies realizou um projeto monumental para o grande salão oval do Palácio Nacional de Montjuïc, quando eu próprio dirigia o MNAC e a arquiteta Gae Aulenti trabalhava no edifício e no museu. Tratava-se de uma escultura de 18 metros de altura representando uma meia furada com o salto levantado, que seria pendurada no teto, acompanhada e sustentada por uma série de peças em forma de cruz. O conjunto era feito de malha metálica e fibra de vidro, com uma estrutura interna de tubos metálicos. Tàpies concebeu este monumento como um espaço de intimidade, onde se pudesse entrar para refletir.
O projeto gerou forte controvérsia pública na época, entre defensores e detratores. Acabou sendo descartado. Tàpies sofreu muito com essa rejeição. Defendi a realização até o último momento, convencido de que essa obra atrairia muitas pessoas ao museu, um público que viria para visitar as obras do passado, mas também para admirar uma grande realização tapiesana. Foi, para mim, um incentivo, uma propaganda adicional para o museu. Nessa obra, Tàpies reuniu elementos usuais de sua linguagem artística. Lembremos, por exemplo, o Grande Díptico das Meias, de 1987, hoje na Fundació Antoni Tàpies.
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As meias, muito frequentes nas obras de Tàpies, eram para ele símbolos da vida cotidiana, e se ele também as representava furadas e gastas, era para dignificar o objeto mais humilde. Levando-a à dimensão de uma capela secular, um espaço de reflexão pessoal, o artista propôs para o MNAC uma obra de absoluta posteridade que também correspondia ao seu conceito de museu quando afirmou, dez anos depois, em entrevista a Arnau Puig, em março de 2002: "Os museus se tornaram um espetáculo popular, abandonando o caminho do espírito e da sacralidade que, em última análise, é a arte". Hoje, a memória daquela grande controvérsia e da generosa proposta que o artista fez para sua cidade e para o museu mais importante do país quase se perdeu. Com esta obra, Tàpies teria se tornado ainda mais imortal e o museu teria tido uma realização com grande poder de atração. Embora uma reprodução em formato reduzido tenha sido feita na Fundação Tàpies de Barcelona, pareceu-me que nos anos das comemorações do centenário do nascimento de Antoni Tàpies, era necessário reivindicar esta obra e, por que não, exigir que um dia ela fosse instalada no lugar para o qual havia sido concebida.