Marcel Martí nasceu em Alvear, Argentina, em 1925, mas acabou se estabelecendo em Palafrugell, onde viveu até o fim da vida. Agora, coincidindo com o centenário de seu nascimento, o Museu Can Mario acolhe uma exposição que revisita sua trajetória. A exposição, intitulada Ritmo e Matéria, com curadoria de Aitor Quiney, vai além de sua faceta de escultor e abre a janela para mostrar outros aspectos menos conhecidos do criador.
Martí fez desenhos, tapeçarias, gravuras e pinturas, e de fato começou com o lápis. O desenho era para ele tanto uma ferramenta de trabalho quanto uma maneira de dizer coisas que talvez não pudesse expressar da mesma forma com volumes. Aitor Quiney destaca que "embora Marcel Martí sempre tenha sido analisado como escultor, é sem dúvida também um desenhista de grande qualidade e um poeta que escreveu desde a adolescência". Martí entendia o desenho como a base de sua maneira de criar, não como um passo anterior à escultura. De fato, uma de suas primeiras obras publicadas na revista Ariel já dá um vislumbre de como a linha e o volume eram centrais em sua visão.
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Na década de 1940, expôs pela primeira vez em Barcelona e, graças a essa oportunidade, viajou para Paris, onde pôde entrar em contato com artistas como Zadkine ou Lhote, e onde também aprendeu gravura com Paul Bornet. Desde então, as obras giravam em torno de figuras humanas idealizadas, especialmente nus femininos e composições de grupo. Mas isso mudou gradualmente: a partir de 1957, Martí se voltou para formas mais abstratas, embora alguns temas, como a maternidade, continuassem presentes. Esse processo o levou a explorar materiais diversos, como bronze, pedra, madeira, cerâmica e cimento.
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A exposição na Can Mario, que pode ser visitada até o final de novembro, inclui peças de pequeno e médio porte que mostram como sua linguagem evolui, da figuração para uma abstração mais limpa, sempre com um claro interesse pelo movimento e pelos espaços interiores. Martí buscava equilíbrio e harmonia em suas criações, e essa maneira de fazer as coisas também pode ser vista nos desenhos expostos, alguns dos quais têm um lado mais narrativo e surrealista, mas sem nunca perder aquela linha clara que tanto o caracteriza. Como Aitor Quiney aponta: “São desenhos claros, sem sombra e com uma linguagem simples, aos quais ele às vezes adiciona cor. Alguns dos temas mais literários e surrealistas também estão presentes, mas em menor quantidade, já que são ilustrações com um componente narrativo.”
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Ao longo de sua carreira, recebeu diversos prêmios, como o primeiro Prêmio Manolo Hugué ou o Prêmio Julio González, que valorizaram sua maneira de compreender a forma, a textura e o peso dos materiais. Durante as décadas de 1960 e 1970, experimentou novos suportes, como o metacrilato ou a fibra de vidro, sem nunca abandonar os mais tradicionais. De fato, na década de 1990, retornou ao ferro, mas com um formato menor e um tom mais intimista.
As peças de Marcel Martí revelam uma trajetória coerente, onde mudanças formais nunca significaram uma ruptura com o que lhe era essencial. Ao longo dos anos, ele definiu sua própria voz e, como afirma Maria Lluïsa Borràs, sua obra "permaneceu inalterada na forma de entender a escultura", uma evolução que não depende do que acontece lá fora, mas se nutre de seu próprio processo, seu pensamento e seu universo.
Agona, Marcel Martí (1998). Fundació Fran Daurel