Dolors Oromí, artista têxtil nascida em Barcelona em 1928, fez parte de uma geração que abalou os fundamentos da tapeçaria tradicional e ajudou a transformá-la em uma disciplina com linguagem própria. Formada na Escola d'Arts i Oficis de la Llotja e discípula de Josep Grau-Garriga, Oromí vivenciou em primeira mão a mudança radical ocorrida na década de 1960. Naquela época, artesãos e artistas começaram a repensar a tapeçaria. Ela deixou de ser apenas uma técnica funcional para se tornar uma ferramenta para expressar novas formas e volumes, utilizando fibras naturais e abandonando o motivo figurativo clássico. A tapeçaria tornou-se um objeto escultórico que habitava o espaço de uma maneira diferente.
Essa reviravolta artística chamou a atenção da crítica e abriu caminho para que a tapeçaria fosse considerada um ramo autônomo da arte contemporânea. Oromí, com sua obra, foi parte ativa dessa evolução, contribuindo com uma voz particular que refletia uma profunda conexão com a natureza e as raízes do material que manipulava. De fato, Pilar Parcerisas resume muito bem: "Dolors Oromí trançou os frutos da terra em seu estado natural para abraçar a beleza selvagem da floresta e os nós de um conhecimento original".
Sense títol, Dolors Oromí (1979). Galeria Artur Ramon
Oromí sempre trabalhou com lã até que, certa vez, na casa senhorial de Palau-solità i Plegamans, ficou sem material. Sem nem pensar, saiu e recolheu um punhado de fibras vegetais de uma carroça próxima para continuar tecendo. Essa anedota reflete muito bem sua maneira de entender o material e seu espírito. Com essas fibras naturais, continuou a desenvolver peças e esteve presente em várias edições da Bienal Internacional de Tapeçaria de Lausanne, dividindo espaço com sua professora e outros artistas contemporâneos, como Teresa Codina e Aurèlia Muñoz. Ao longo de sua carreira, também fez parte de instituições como o Foment de les Arts Decoratives (FAD) e o Mérito Artistico Europeu (MAE), duas entidades que desempenharam um papel fundamental na promoção e divulgação das artes decorativas e aplicadas.
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Dolors Oromí nos deixou na semana passada, aos 97 anos, deixando um legado profundamente enraizado na sensibilidade e na poética da matéria. Josep Grau-Garriga destacou sua evolução artística, especialmente sua capacidade de desnudar a matéria até sua essência, bem como o jogo de formas em suas tapeçarias e a força e austeridade que elas transmitiam. Até quase o último momento, Dolors continuou a participar de projetos artísticos. No ano passado, ela estrelou a exposição Poéticas Ancestrais na galeria Artur Ramon, um interessante diálogo entre sua arte têxtil e a cerâmica Madola, uma exposição que foi além do tangível e explorou uma espiritualidade comum entre essas duas expressões, uma ponte entre duas maneiras diferentes de entender a matéria e a tradição.
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