Mais de dois terços das obras abrem as portas para a grande antologia de Néstor Martín-Fernández, o artista canário que transitou entre o modernismo, a decadência e o simbolismo. O Museu Nacional Reina Sofia, juntamente com o Espacio de las Artes de Tenerife, nas Ilhas Canárias, e o Museu Néstor, em Las Palmas de Gran Canaria, utilizam dez salas no centro de Madri para mostrar facetas que foram sendo criadas desde o início do século XX, destacando pinturas de vários estilos, murais, arquitetura e cenários teatrais.
Néstor Redescoberto é um diálogo direto com a singularidade do artista canário que nasceu em 1887 e morreu em 1938. Ele alcançou reconhecimento internacional em sua época, mas sua morte prematura aos 51 anos deixou obras inacabadas, como o Poema dos Elementos. O Reina Sofia expõe séries épicas repletas de corpos barrocos, fantásticos, masculinos e femininos, explorando os princípios esotéricos da Maçonaria, o erotismo exuberante, assim como representações de elementos nativos das Canárias.
Sátiro del vallde Hespérides, Néstor Martín-Fernández de la Torre (1930). Museo Néstor. Foto: Fernando Cova del Pino
Néstor Martín-Fernández decidiu deixar Las Palmas para chegar a Madri e depois a Barcelona, cidade onde viveu de 1907 a 1913. Era popular nos círculos modernistas e expôs na Galeria Parés. Mais tarde, em Madri conheceu figuras como Valle-Inclán, Lorca ou um jovem Dalí, e também visitou cidades importantes no campo artístico como Londres, Paris ou Bruxelas, lugares e espaços que o ajudaram a assumir os preceitos pré-rafaelitas, conhecendo Gustave Moreau ou Gustavo Durán.
Sua obra caiu no esquecimento, mas esta exposição recupera todo o seu esplendor, poder e vitalidade. Juan Vicente Aliaga, curador da exposição, explica como “o regime franquista se apropriou de sua obra e a transformou em um simples expoente do folclore canário, sem esquecer o declínio de um movimento como o Simbolismo”.
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De 14 de maio a 8 de setembro, o olhar deve se deter na obra de Néstor Martín-Fernández, com seu modernismo, sua sensualidade, seu fascínio pelos corpos andróginos, o fato de criar uma obra inclassificável que desafia os cânones morais de sua época. A viagem começa com a busca de identidade como artista com Adagio, obra de 1903, para criar um percurso com paradas em Barcelona (a espetacular peça pictórica Epitalamio (ou o casamento do príncipe Nestor), o binômio entre hispanidade e cosmopolitismo, mitologias sexualizadas, muralismo, assumindo grande potência na parte do 'Poema dos Elementos' ou seu talento cenográfico.
O encerramento da exposição, uma das mais importantes de Madri neste período de verão, é marcado pelo elemento canário, a promoção da cultura popular. As Ilhas Canárias estão sempre presentes em sua obra, como é o caso de Visões de Gran Canaria, criando um conjunto de pinturas onde as características canárias se entrelaçam com os elementos mediterrâneos de sua estadia em Barcelona.
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